quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ventos de Inverno

Como o vento passa por entre os meus cabelos, também aquela presença passa por entre os meus dedos. 

Deixo-o escapar, com doçura e carinho, incompreendido pelos que me rodeiam, e um pouco também por mim mesmo. Vejo-o afastar-se, de cabeça baixa, hesitante, num impasse como o meu. Não sei se hei-de fica quieto a observá-lo afastar-se no caminho enregelado pela manhã fria de Dezembro, se hei-de correr para junto dele e repousar a minha mão no seu ombro. Os braços tremem-me, lutando contra a vontade de o segurar junto ao meu corpo. Vejo-o ficar cada vez mais pequeno, transformando-se num ponto no horizonte, e caio de joelhos exausto. Deito-me no chão, observando as nuvens cinzentas, ignorando as minhas costas frias. As pessoas passam e vão, tão depressa como vieram, mas nenhuma delas me marca como aquele... Nenhuma delas leva comigo um pedacinho de mim mesmo e dos meus sonhos e desejos. Nenhuma delas me dá vontade de lhe pegar na mão e caminhar a seu lado. As nuvens escuras empurradas para longe pelo vento, relembram-me daquela força invisível que me empurrava na sua direção mas contra a qual resisti, mas que não desiste de me querer fazer levantar do chão e correr. Um floco de neve cai, afastado da minha cara pelos ventos de inverno, como a força que não sei onde fui buscar me afastou dele. Da sua presença. Do seu sorriso. Fecho os olhos e resta-me a mente, que faz dançar à minha frente imagens desfocadas de mãos dadas caminhando pela neve, com risos cobrindo o som dos passos que se afundam nos flocos de gelo acumulados nas estradas e passeios. Finalmente levanto-me e sigo caminho, na direção oposta, afastando-me dele, daquele lucal, tentando fugir daquelas memórias que retornam a mim, e daquelas imagens que se querem fazer passar por memórias vagas mas que no entanto não o são porque nunca chegaram a acontecer. Surgem as dúvidas acerca da decisão que tão certa e democrática, racional e compreensível parecia ser na infeliz altura em que foi tomada. É-me agora inevitável caminhar sozinho, neste caminho gelado, até chegar ao verão quente trazido por outro alguém, que se seguirá depois pelo novo inverno que se instala após a sua partida. No fundo do meu peito brota e morre a esperança de que as coisas serão diferente para a próxima. Mas o ciclo das estações continuar, e os ventos de inverno continuam a enregelar-me os dedos até ao dia em que finalmente chegue a inspiração maior, aquele que traga o verão e que nunca mais deixe chegar o inverno.

2 comentário(s):

Sérgio disse...

E estes dias invernosos de muito frio sem chuva até sabem bem :p

Vim desejar um feliz Natal e solicitar feedback ao e-mail de dia 12.

abc

Unknown disse...

Ah! O e-mail foi visto e respondido, com um pedido de desculpa por não ter feito isso antes. 11 dias de atraso é indesculpável, mas ainda foi a tempo! Antes tarde que nunca.

Cheers! =D

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