sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Adaptar-me às necessidades é uma coisa...

... ser o único a adaptar-me a uma relação é outra bem diferente. Tem sempre de existir um equilíbrio.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um texto Aleatório



Vago vento silencioso. Sussurra-me fazendo a minha pele arrepiar, e a minha espinha obriga-me involuntariamente a estremecer, sem que eu queira ou possa controlar, tal como não quero e não posso controlar o pensamento que provoca essa briza de inverno. Embora poético, na escrita melancólico estou como no coração. Lembro os tempos que foram e já não são… Os tempos de risos e conversas longas até horas alargadas da noite, como se não houvesse amanhã e não necessitássemos sequer de dormir… Mas agora as minhas palavras soam ocas e escapam dos ouvidos de a quem eram dirigidas. Palavras. Pistas. Pequenas coisas que leio, que observo, que são pra mim sons claros e altos como o soar da campainha do meu despertador (daqueles estilo antiquado que faz “trrrrrrrrrrrrrrrrrrrrriiiim” até o desligarmos). Todas essas coisas que quando os outros emanam sem querer eu descubro e colho, interpreto e percebo. Todas essas coisas que, quando sou eu que emano, escapam a quem eram dirigidas. E depois fico olhando expectante até ao momento que finalmente as pistas são montadas pelos outros como a um puzzle, ou até ao momento em que percebo que as peças que dei eram já pequenas demais e em quantidade insuficiente para que o puzzle fosse completo. E porque não fazer de caixa aberta e dar logo por palavras o que sinto? Porque mesmo dentro de uma caixa aberta, um puzzle não vem já montado e cabe à pessoa que o estima como propriedade sua a tarefa de unir as peças para completar a imagem e a mensagem. Algumas imagens não são para todos os olhos, pois podem ofender e revoltar alguns. No entanto, tenho uma forma de dizer o que sinto. Junto outro tipo de peças noutro tipo de puzzle. Peças essas são as letras, puzzles esses são as frases construídas a horas que são já da madrugada e não da noite. É a minha forma de montar o puzzle em frente aos olhos de outros. Mas não dura muito… Pois bastam minutos, segundo até, talvez, para que o vago vento silencioso desmonte este fino puzzle de letras e o leve consigo de novo desmontando-o, para que alguém do outro lado do mundo as poça apanhar e montar na ordem que bem quer e lhe apetece, transformando as palavras numa distorção do que eram, e na beleza do que serão depois.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Folhas de Papel

Colho-as aqui e ali. Como se de plantações se tratassem, semeadas por todos os cantos por que passo, principalmente por aqueles a que chamo meus. O meu quarto, a minha estante, os meus livros, as minhas folhas. Escondidas sorrateiramente se arrastam para debaixo de objetos que vou pousando em cima das secretárias ou das prateleiras sem prestar atenção ao que estou a fazer. Quero libertar as minhas mãos e não importa em que sítio pouso o qualquer manual escolar ou placa de desenho digital que me ocupa os dedos que estremecem ao escrever no papel por já não o fazerem há algum tempo.

Suspiro e olho, observo o teto, na esperança que quando voltar a baixar o olhar já tenha passado o tempo que falta para o sentir de novo nos meus braços. Os meus olhos perscrutam freneticamente o parágrafo em busca daquelas palavras alienígenas trazidas pelo novo ortográfico. Tal como mudou a língua, mudaram os meus desejos e esperanças. mas tal como esta manteve as suas bases, também os meus desejos e esperanças mantêm as suas. folhas de papel que caiem levemente abraçadas pelas moléculas da atmosfera, aninha-se no chão a folha branca. Não. Já não está branca. Mas também não foi escrita por mim. Espreito. Até à pouca luz do candeeiro de cabeceira o desenho vibra com as várias cores. São os rabiscos genuínos e honestos de uma rapariguinha de seis anos, a prima M. . Olho para o desenho, com inveja. O produto das minhas inspirações de escriba mancham as linhas das folhas de papel, mas os devaneios de uma pequena e inocente criança enchem de cor um papel branco. Naquele desenho posso ver as cores, as cores, deuses, as cores que tanto enchem pedacinhos da minha vida, a pouco e pouco inundando-me de uma ingénua felicidade. Mas os borrões que vejo manchando as folhas de papel que reclamei para torturar com a ponta afiada da minha caneta são também um pedacinho de mim. Arrependimentos que me assombram, desejos que me atormentam. Esses... Esses são aqueles que me fazem ficar com nostalgia.

"Como aqueles que invocam espíritos invocam espíritos, invoco
A mim mesmo..." 
(Álvaro de Campos, A Tabacaria)

Quase como fazia o Campos, invoco como os que invocam espíritos invocam espíritos, mas não a mim mesmo e sim à sua presença... Aqueles braços que me envolvem com calor e carinho que me fazem sentir num porto seguro de onde posso viajar para outros mundos e voltar de novo tendo um sítio onde sempre lançar âncora. Quero ouvir de novo aquela orquestra solitária que é o bater do seu coração junto aos meus ouvidos, marcando o ritmo compassado a que passa a minha vida sempre a pensar nele, nos seus lábios que tanto quero voltar a beijar, e nos seus olhos...

Seus olhos...

Deuses, os seus olhos, os seus olhos... os seus olhos castanho profundo, memória longínqua parecem ser, com uma aura de um verde folha, como as folhas das árvores... das árvores que deitam abaixo para fazer as folhas de papel onde borro parágrafos longos e suspirados... Vejo naquelas folhas agora aquele castanho profundo dos troncos das árvores de que se fez o papel, e o verde que rodeia o castanho como uma aureola, tal como as folhas formariam uma copa no topo da árvora que abaixo foi deitada.

O bater do seu coração.
O carinho do seu olhar.
A proteção dos seus braços.
O calor do seu corpo.
O conforto dos nossos dedos entrelaçados.
A suavidade do seu cabelo.
O Aroma doce da sua pele.

Coisas perfeitas e sem igual neste mundo, obra dos deuses, certamente, obre de uma qualquer entidade que sem dúvida gosta de ser irónica, pois criou para mim o par perfeito, mas afastou-o de mim quilómetros e quilómetros, bem longe do alcance do meu abraço...