Às vezes há coisas que me fazem sentir tão bem, e no entanto são tão irrelevantes à primeira vista...
Agora mesmo, com fome para lanchar, mas sem vontade de comer, fui preparar uma caneca de leite com cacau. Fi-la como sempre faço. Peguei numa caneca, pus duas colheres e meia de açúcar, duas e meia de cacau, um pouco de leite e misturei até fazer uma pasta, com a consistência e o sabor de mousse de chocolate. Quando finalmente cheguei à textura desejada, enchi a caneca e misturei. É como que um ritual de preparação que sigo mais ou menos religiosamente, dependendo do tempo que tenho disponível. Sentei-me ao computador, e bebi o leite. A frescura acariciou-me o estômago, deixando-me com uma sensação confortável de satisfação. Foi então que olhei para a caneca e me apercebi qual era. Azul por dentro, amarela por fora, com uma cara sorridente com um nariz e palhaço vermelho, um par de mãos e pés desenhados cumprimentaram-me jovialmente. Era aquela caneca. A caneca que já não usava há anos. Aquela caneca onde eu, quando novo, bebia todas as manhãs o meu leite com chocolate. Era aquela cara sorridente que me cumprimentava no acordar de todos os dias, animando-me para mais um dia de escola, com a companhia dos meus amigos. Era aquela caneca que, na altura, tinha de pegar com as duas mãos em volta dela, pois ainda não tinha habilidade nem força para a segurar pela asa. Na altura, uma das mãos que a segurava passava por dentro da asa, sentido o conforto do leite quente na palma e o contraste da porcelana fria no outro lado da mão. Hoje, já só consigo, a muito custo, pôr três dedos dentro daquele espaço. E já consigo segurá-la apenas pela asa. Acabei o leite. E fiz como eu fazia quando era novo. Peguei nela e espreitei lá para dentro. Sentia o aroma deixado pelo leite achocolatado misturado com a porcelana, numa esperança vã de que o líquido saboroso não tivesse ainda acabado definitivamente. E depois levava-a para o lava-loiça, para ser lavada, pronta a usar no dia a seguir. Mas hoje, ela não vai já para o lava-loiça... Hoje vou arrastar a companhia que ela me faz... Merece que eu lhe dê esse pequeno tributo, para compensar os anos que ficámos sem estarmos em contato.
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