São nove e meia da manhã. Ergo-me da cama, aflito, olhando para o despertador. Sim. Nove. Acordei a mais do que tempo. Fico mais meia hora na cama, para fazer tempo. Depois vou tomar o pequeno almoço, vestir-me, fazer um pouco de mais tempo. Dez e meia. Ora bem, é altura de fazer os últimos preparativos e zarpar para a estação de comboios. A mãe aconselha-me a trocar de comboio no Cacém. Apesar de preferir fazê-lo em Benfica, sigo o conselho dela. Constato aterrorizado, que não há comboios com destino a Alverca ou ao Oriente que passem por aquela estação. E tenho de esperar mais meia hora pelo próximo comboio com destina a Lisboa-Rossio, para poder trocar em Benfica. Enquanto amaldiçoo os conselhos da mãe, envio uma sms ao K., a avisá-lo do atraso. Fiquei com medo que ele pensasse mal de mim. Parvo que sou. Finalmente, lá apanhei o comboio, troquei em Benfica e finalmente fui para o Oriente. Duas estações antes de lá chegar, o meu coração já batia depressa, e recebo uma sms dele a dizer que já tinha chegado, que lhe desse um toque para ele depois me ligar quando eu chegasse. "bum-bum, bum-bum, bumbum, bubum" cada vez mais rápido... "Próxima paragem: Oriente" diz a voz mecânica da mulherzinha. Reconheço a estação. Já lá tive imensas vezes. Mas é a primeira vez que o K. lá está. Saio do comboio e ligo-lhe. Vou caminhando, e ele desliga e volta-me a ligar. "olá", cumprimenta aquela voz que eu nunca tinha ouvido, mas que já me prendia ao aparelho. Uma voz que transmite uma personalidade paciente, inteligente, cautelosa. "olá", respondo em pânico, "Já cá estou, mas tens de me dizer onde estás, eu já estou a descer". Ele diz que vê os logótipos de várias lojas, mas a chamada vai abaixo. Treta do ecrã tátil do meu telemóvel! Grr. Quando dou por mim, tenho um portão de ferro branco a barrar-me o caminho. "What the hell?", murmuro, "Obviously this is the wrong way...". Volto a subir as escadas e vejo então a indicação do sítio onde eu me tinha enfiado: "Saída de Emergência". Rio-me de mim mesmo, e do que os nervos me podem fazer. Lá encontro o caminho, comentando para mim mesmo como é irónico que o K. nunca tendo estado naquela estação, sabe melhor como lá andar do que eu. Finalmente, depois de ter recuperado a chamada, pergunto-lhe onde está.
- Consigo ver o sinal da C&A, da Vobis... - Comenta.
- Ah sim, já sei, estás a ver o Vasco da Gama, eu também já o estou a ver. - Respondo.
- Já me estás a ver?
- Não, vejo o centro, mas não te vejo a ti... Deves estar perto de outra plataforma... Vejo as escadas para a rua, na entrada da estação. Olha, fazemos assim, procura pela entrada e desce as escadas.
- Sim, descemos ao nível da rua.
- Estou a descer.
- Ah, já te estou a ver!
As suas palavras põe-me o coração aos pulos e os sentidos alerta. Eu não o vejo! Oh, espera. Sim, é ele. Um casaco preto, uma camisola verde e umas calças de ganga escura. Desço finalmente, desligando. Estávamos a descer cada um em frente ao lance de escadas que o outro descia. Mais tarde, comento que aquela até foi uma entrada poética. Ficamos assim, um em frente ao outro, por momentos em silêncio. Ele pergunta-e para onde vamos.
- Talvez ao centro, que é onde há os restaurantes, tipo Mc, e assim. - Respondo.
Ragdoll, vá lá, faz qualquer coisa! Não sei, abraça-o ou assim! Mas e se ele não quiser isso já... é melhor... Bolas, as minhas pernas já me começaram a arrastar para a passadeira, que já conta os segundos até o sinal para os peões ficar vermelho. Finalmente, depois de lá chegarmos e termos feito o nosso pedido no McDonald's, sentamo-nos numa mesa. Eu gostava de ter ido lá para fora, já que é uma vista que dá gozo ver, mas as mesas estavam molhadas por causa da chuva.
- Que romântico, McDonald's! - Graceja ele, enquanto abre o invólucro da palhinha.
- Ao menos é comida, não?! - Respondo, sorrindo.
Conversamos um pouco, comentando o tempo, enquanto comemos. Ele faz menção ao facto de eu estar sempre a comer. Finalmente, levanto-me da mesa, sem ter acabado as minhas batatas.
- Então, tu comes tanto e não acabas as batatas? - Pergunta, incrédulo.
- Eu posso comer muitas vezes ao dia, mas é pouco de cada vez. - Informo.
O K. pergunta-me se deixamos os tabuleiros em cima da mesa. Faço o comentário que, apesar de não gostar muito disso, sim, podemos deixá-los lá, que alguém os tirará. De seguida, interroga-me acerca do nosso próximo destino. Digo-lhe que gostaria de ir até perto to Tejo, que é um sitio giro para se passear.
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