Quando chegamos à estação do Oriente, já sinto em mim o peso da partida. Falta tão pouco tempo... E ainda não tive a coragem de o abraçar, de lhe dar um beijo... Penso nisto enquanto andamos às voltas, à procura de lugar e dos horários dos comboios. Compro o meu bilhete e, finalmente, decidimo-nos a entrar numa daquelas "salas de espera" com paredes de vidro que estava mais ou menos vazia. Sentamo-nos no banco, ainda a conversar, mas já sentimos no ar a nostalgia. As pausas começam a ficar maiores. Não, não é por falta de motivo de conversa, é porque hesito, não sei o que fazer. Ele volta a fazer o comentário que tenho mãos de pianista, por ter as unhas curtas. Eu sorrio, dizendo que não tenho treino. Quando dou por mim, observo a sua mão, aberta, pousada em cima do seu joelho. Respiro fundo, o meu coração bate que nem um louco. É o agora ou nunca. Entrelaço os meus dedos nos seus, acariciando-lhe a mão, olhando para ele. Ele hesita durante um pouco, olhando para as nossas mãos dadas, e acaba por pousar a sua cabeça no meu ombro. Solta um suspiro, dizendo o meu nome. Sinto um arrepio de prazer percorrer-me a espinha e pouco a minha cabeça no seu cabelo. Faz-me lembrar uma daquelas mantas fofas de penas. E assim ficamos, a conversar. A dada altura, entra um grupo de três raparigas e um rapaz. Eu e o K. apercebemo-nos que no estão a observar. O rapaz tem o telemóvel a tocar a Telephone da Lady Gaga. O K. surpreende-me começando a cantar, olhando para elas, desafiando-as. Por esta altura, já estamos sentados direitos. Acabamos por nos sentir desconfortáveis com os mirones e ele pergunta-me se quero ir para outro sítio. Aceno afirmativamente, e saímos dali. Procuramos por mais algum tempo lugar, sem conseguirmos. Quando ficamos um pouco a olhar para a estação de autocarros, acabamos por descobrir um sítio com bancos, que estava praticamente vazio. Um dos bancos estava livre, e tinha vista sobre a estações dos autocarros. Sentamo-nos, e eu acabo por pousar a minha cabeça no seu ombro, entrelaçando de novo os meus dedos nos seus. Comento que não quero que o dia acabe. E ele diz algo que me faz derreter. Há uns dias, quando fui a Penacova, atravessei uma ponte de madeira sobre o Mondego. Comentei com o K. que gostava de estar lá com ele, sentado na beira da ponte, com as pernas suspensas sobre o rio, com a cabeça no seu ombro e o meu braço envolvendo-lhe a cintura.
- Olha, estás a ver lá ao fundo? - Comenta. - Aquilo é o Mondego, temos aqui a ponte de madeira.
Eu sorrio, olho para ele. Tenho vontade de o beijar mas, de novo, tenho medo ao mesmo tempo. Eu nunca tinha beijado ninguém até então. E se algo corria mal? Ficámos assim por algum tempo. Comecei a sentir a voz tremer de vez em quando, as lágrimas ameaçarem a cair. Estava tão perto de o ter tão longe de mim... Contenho-me e continuo a conversa com ele. Apercebo-me, pelo som e pelo reflexo no vidro À nossa frente que há um grupo de quatro jovens que se senta atrás de nós, a um canto, no chão. Rezo para que não sejam as mirones de antes. Mas acabo por não fazer caso e continuar a falar com ele. Finalmente, o meu relógio marca a hora prevista para o meu comboio. Hesitamos em levantar-nos, sem querer separar as nossas mãos. Eu levanto-me, ainda com os dedos entrelaçados nos seus. Ele levanta-se e solta-me para pegar na mala. Caminhamos, passando pelo grupo de jovens. O K. comenta que tinha receio que fossem as raparigas da "sala de espera". Eu sorrio com o comentário, e ele revela que já tinha tido vontade de me dar a mão, mas que tinha receio de eu não o querer.
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