terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pedaço de Terra Meu

Afinal, não fomos ao norte. O carro deu problemas, e nem vinte minutos andámos. Já voltámos, o carro foi rebocado, e um táxi foi chamado. Mas já disse à mãe que não queria lá ir. Porquê? Porque os meus avós têm mais facilidade em vir cá do que nós lá, e, no entanto, depois é o que se vê. A defesa da minha mãe? "Mas sabes como é... Eles têm lá o quintal e..." Eu interrompi-a. "Não vás por aí, que eu também cá tenho tudo em Lisboa e não é isso que me impede de lá ir.". Acabei por soltar no ar aquela do "para eles, um pedaço de terra tem mais importância que vir visitar a família." Isso revolta-me. Sim, já cá passaram uma temporada, os meus avós... Apenas porque o meu avó precisava de fazer uma operação num médico de boa qualidade. Sim, afinal, eles acabam por cá vir apenas devido a pensamentos auto-centrados como esses... Nunca cá vêm porque simplesmente pensaram "mhm, apetece-me ir visitar a filha e os netos...". Nop, vieram cá porque "Preciso de um doutor que me ponha bom num instante para poder voltar a ir para o quintal.". E a minha mãe continua a fazer-lhes a vontadinha cómoda. Eu? Já não vou ficar mais calado. Sim, já chateei a minha mãe. Não vou lá. Porque haveria eu de ir visitar um par de pessoas que, para além de não terem tido muito partido na minha educação (nem da minha mãe, já que ela e a irmã foram criadas pela minha bisavó) e que, além do mais, a desculpa que dão para não irem lá é que têm de plantar meia dúzia de couves e uma mão cheia de batatas? Essa é uma das razões pelas quais eu não vou lá. As outras? Primeiro, o calor é de tal forma insuportável que nem dá para sair à rua, logo precisamente no único sítio onde posso sair sempre que quero e bem me apetece, para onde quero e bem me apetece. Depois? Tenho muito pouco com que me entreter por lá (já que não posso sair por causa do calor, capito?). Gosto de lá ir, a sério que sim! Mas quando o tempo está ameno, por alturas da Páscoa... Quero dizer, no natal, tenho duas escolhas, ou fico em casa em frente à lareira e os olhos me incham que nem balões (sou alérgico ao fumo), ou então fico no meu quarto onde morro enregelado. Sair à rua no Inverno? Até saia, se não fosse o frio extremo que me obriga a ir encasacado... E claro, tenho de voltar para dentro, ou arrisco-me a ficar sem a ponta dos dedos... No verão? nem preciso de estar a mexer-me para soar que nem um porco, debaixo do calor abrasador (que pelos vistos lá faz neste momento). Agora, eles? Não vêm cá porque tem de cuidar do quintal... é sempre bom saber que eles olham para a família como uma prioridade secundária em relação a um pedaço de terra... 

A minha mãe insiste que, assim que arranjarmos carro (possivelmente amanhã) lá vamos. Eu e o meu irmão recusamo-nos. E é como digo, cansei-me de ficar calado. Esta situação já se arrasta à demasiado tempo. A parte que mais me põe fulo? É que a minha mãe os defende exactamente com o argumento que me tira toda a  vontade de lá ir.

Porque se eu tivesse um pedaço de terra meu, ele não viria primeiro que os meus filhos e netos.

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