Sinto-me num mundo que não é meu. Acordei assim, acho eu... Talvez seja um sentimento que sempre tenha estado presente, apenas oculto... Isto desperta outros sentimentos em mim, como o de frustração. Cada vez que viro uma esquina na escola, esbarro com um casal de namorados. E fico com raiva por a sociedade criar preconceitos dogmáticos que me impedem de ter o mesmo, sob a pena de ser espezinhado até por aqueles que mais próximos me são. E isto leva ao sentimento do abandono e solidão. Sim, eu sei que não sou o único no mundo a passar pelo mesmo, tenho consciência disso, mas isso não torna a situação melhor do que ela é. É como uma facada nas costas. Sinto-me sozinho, e começo a sentir que todos me viram as costas. Ou pelo menos, sinto que me as virariam se soubessem quem eu realmente sou. E, por causa disso, sou obrigado a manter-me numa prisão que é o meu próprio corpo. De novo, sinto-me frustrado. Sinto-me traído. Não só com os outros, mas também por mim próprio. Esse sentimento de traição do nosso próprio corpo é esmagador. É capaz de me deitar abaixo mesmo nos dias em que me sinto mais bem disposto. Olho à volta e pergunto-me: "Será que ele passa pelo mesmo que eu?", "Será que há alguém que me compreenda?". Deve haver. Mas sinto que não pertenço a este mundo. Se eu pertencesse a este mundo, não teria todos os medos e receios que tenho... Dou voltas entre suspiros durante a noite sem conseguir dormir. Estou prestes a explodir. já sinto o pavio em ignição. Tento a todo o custo deitar água por cima do fogo e impedir esta bomba de se libertar... Mas estou a ficar sem forças para lutar contra isto.
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