domingo, 1 de maio de 2011

K. (Parte 4/4) - A Partida

Valido o bilhete. É o que marca o fim do dia prestes a chegar. O comboio está parado, de portas abertas, pronto para partir.
- Então aquele é o teu comboio... Temos de dar um daqueles abraços. - Diz ele, convidativo.
Eu aproximo-me dele, e envolvo-o com os meus braços. Com o queixo pousado no seu ombro, sinto ainda mais vontade de rebentar em lágrimas. Contenho-me, cerrando os olhos por momentos.
- E não chegámos a dar nenhum beijo... - Comenta. - Achas que devemos arriscar...?
- Por mim sim. - Respondo rindo.
- Credo, até parece mal falar disto assim, arriscar a dar um beijo...
Hesitamos um pouco, depois aproximo-me dele, ainda com uma mão no seu ombro. As nossas bocas tocam-se. Sinto-me na lua. O aroma da sua boca deixa-me louco. Uma onda de sentimentos inunda-me o ser. Receio, por estar a fazer aquilo mal; frustração, por não ter feito aquilo antes; prazer, por estar a beijar o meu namorado; carinho, por estar a demonstrar o amor que sinto por ele.
Depois do beijo, damos um abraço rápido.
- Tens de ir, ou ainda perdes o comboio. - Avisa.
- Está bem... amo-te. - Digo, com a voz mais trémula do que nunca, dos nervos, e da nostalgia.
- Eu também.
Quando entro no comboio, sinto os olhares das pessoas que tinham estado a espreitar pela janela. Olhares frios e calculistas. Mas já nada me importa. Na minha cabeça ainda flutua o sabor dos seus lábios. Lembro-me de algo que ele tinha escrito na carta. "Os deuses deram-me a provar a sua Ambrósia". E nunca aquela frase tinha feito mais sentido para mim. Sento-me no comboio, recordando os seus olhos verdes... Sinto-me sortudo, por ter um namorado com a cor de olhos que mais gosto. Sorrio com este pensamento, enquanto o vejo pela janela, a descer as escadas de telemóvel na mão. E na sua cara, estava aquele sorriso. Aquele sorriso que não me sai nunca da cabeça, aquele sorriso que me deixa atordoado sempre que vejo. Dou um salto ao ouvir o meu telemóvel tocar. "Argh, deve ser o Miguel, mas que será que ele quer agora?" penso, esperando que ele não estrague o momento. Afinal não é o Miguel. Quando vejo o nome do K. no mostrador, carrego apressado no botão verde.
- Estou!? - Digo.
- Estou. Olha eu avisei que não sabia dar beijos... - Comenta.
- Oh, eu também não sei, mas adorei. E sei que quero repetir. Amo-te.
- Sim, eu hei-de cá voltar outra vez. Mas agora vou desligar. Adeus. Beijos.
- Beijos. Adeus.
Encosto o telemóvel ao peito, sentindo o meu coração bater por ele. Por aquele rapaz. Pelo K.. Faço a viagem toda de cabeça encostada à janela, num estado entre o dormir e o estar acordado. Aquilo a que muitos chamam "sonhar acordado". De tal maneira que quase passo a estação onde tenho de fazer o transbordo. Chego a casa. O silêncio do prédio pesa-me. Queria estar a entrar ali com ele. Mas não posso. Encosto-me à parede, deslizando por ela abaixo, até ficar sentado no chão. Contenho as lágrimas de saudade que tanto lutam para sair pelos meus olhos. Ergo-me, e bato à porta. O meu irmão abre-ma e eu entro com um sorriso no rosto, como se tivesse sido uma saída normal com um amigo. Mas foi muito mais do que isso. Foi um dia passado com o meu namorado, um dos melhores dias da minha vida e um que me vai ficar para sempre na memória. Como o K. escreveu: "É o último dia do mês, mas o primeiro em que nos vemos". Para mim, não foi só o fim do mês, foi o fim de uma espera de anos por aquele que me fizesse pensar nele o dia inteiro.

K., amo-te como a Terra deve amar a Lua...

10 comentário(s):

Unknown disse...

Fico tão contente que tudo tenha corrido bem, estou mesmo feliz por vocês. Agora é avançar na relação.
Ainda bem que se conseguiram beijar (eu, no primeiro, não passei do caloroso e amoroso abraço) e quanto ao público, não te rales com isso, já está na hora de o ser humano se habituar e mudar o conceito de normal.

Felicidades para o casal!

Unknown disse...

Depois do beijo, quando entrei no comboio, sentia-os olhar, mas eram apenas pessoas, olhares que não me afetavam. A partir daquele momento, o meu mundo passou a ser ele e mais ninguém :)

Thanks for the support :)

Cheers! =D

Wolverine disse...

O mais difícil é ter a ousadia de presentear o outro com um primeiro beijo- e há sempre o medo que o nosso beijo seja visto como algum delito.

Nos dias de hoje ainda temos que pensar, primeiro, nas possíveis reacções que os outros vão tomar face às nossas acções, e, segundo, como nos vamos sentir depois de termos agido sob o olhar atento desses abutres.

Porém, eu acredito que quanto mais beijos desses ( entre pessoas do mesmo sexo) acontecerem, mais corriqueiro se torna.
Haverá, contudo, sempre alguém arcaico e peçonhento a difamar quem tem a "ousadia" de manifestar o seu amor.


Acho que este vosso primeiro encontro até correu muito bem.
Os próximos, certamente, serão mais do vosso agrado ;)

(Estes novos casais põe-me contente :O)

Unknown disse...

Pois, o medo de as outras pessoas comentarem algo desagradável é sempre grande, principalmente porque nos poderia fazer ficar desconfortáveis e mais receosos de tentar de novo.

Eu passei grande parte da tarde com medo de demonstrar o que sinto pelo K., por causa mesmo das pessoas que nos rodeavam. Mas não consegui aguentar-me sem o fazer, uma vez que eu até sou um romântico incurável... x) E depois de o ter feito uma vez, as que se seguiram tornaram-se mais fáceis. Claro, haverá sempre alguém -tal como tu dizes - arcaico que não goste disso. Mas já estou no ponto de pensar "Hell, sou eu que tenho gostar, não são os outros que têm de gostar ou deixar de gostar da forma como manifestar o que sinto pela pessoa que amo".

Eu também acho que correu muito bem para um primeiro encontro. Passado o nervosismo de ser a primeira vez que estávamos na presença um do outro e, mais tarde, o medo das reações que poderíamos causar ao trocar carícias em público, até foi bastante agradável. Claro, tenho a certeza que a partir daqui será sempre a escalar. :)

(ainda bem que deixo mais alguém contente com esta relação para além do K. ;) )

Cheers =D

Ikki disse...

Fico contente por vocês e pelo facto de ter corrido tudo bem! Agora força para fazer crescer a relação.
Abraço!

Unknown disse...

:) Obrigado pelo apoio, Ikki ;)

Cheers! =D

Tiago disse...

Fiquei vidrado nos post que escreveste acerca do vosso primeiro encontro...
Acho muito amorosa a forma como ambos se intimidavam com o contacto físico, os sentimentos e tudo o resto, até porque li tanto os teus posts como os do K.!
Torço pela vossa relação...

p.s. não te preocupes com as pessoas, com o medo que te transmitem, pois só a vontade que sentes em beija-lo é que conta...

Unknown disse...

x) Obrigado pelo apoio, Tiago :P

Respondendo ao P.S., tenho a certeza que, da próxima vez, a vontade que tenho de o beijar vai levar à melhor sobre o medo dos pensamentos dos outros. Quem não quiser ver, que olhe para outro lado ;)

Cheers =D

Anónimo disse...

Posso apadrinhar-vos? Posso? *.*
isto parece uma fanfic da real life ou um filme tornado realidade
omg omg omg

i guess there are no words to describe how proud i am now *.*

Unknown disse...

haha, adorkably-silva, uma vez que és uma fã tão devota da nossa relação [x)] Acho que sim, que podes ser a madrinha ;) Eu cá não me importo ;P

E se tu sentes isto como se fosse uma fanfic ou um filme tornado realidade, então imagina como me sinto eu... xP

Cheers!! =D

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