sábado, 12 de março de 2011

I Dreamed a Dream in Time Went By

Acho que o título do post, apesar de ser a citação de parte de uma das músicas do musical Lés Miserábles, aplica-se. I dreamed a dream in time went by... Sonhei um sonho em tempos idos... Sonhei que as coisas não tinham mudado, sonhei que tudo estava como antes. Eu sentia que estava tudo diferente. Mas há coisas que cá continuam, sempre. Pequenas coisas, que acabam por fazer o meu dia. Sonhei que estava de olhos fechados e tinha de descobrir onde estava. Senti a frescura da areia da praia granulada nos meus pés descalços, ouvi as ondas do mar galgarem a margem graciosamente. Senti o cheiro salgado do mar. Comecei a imaginar o cenário à minha volta. Mas depois mudou. Os pés continuavam descalços e sentiam a frescura, mas desta vez das folhas de relva que cobriam o solo húmido. O cheiro do campo molhado após uma chuvada invadiu-me o nariz, e a minha mão passou pelo tronco rugoso e áspero de uma árvore. Sentia a sombra que a árvore fazia sobre mim, os raios de sol a serem filtrados e divididos pelas folhas, fazendo círculos imperfeitos mas belos no chão verdejante. Quando comecei a ver a imagem do local onde estava, voltou tudo a ficar negro, e soube que estava noutro sítio. Continuava descalço e sentia um chão um pouco áspero. Cascalho. Ouvi alguém correr ao meu lado. Sentia o cheiro subtil das pedrinhas e do metal do baloiço. Ouvi um comboio. Sabia onde estava: o pequeno parque infantil em frente à estação, perto da casa dos meus avós. Assim que comecei a imaginar o escorrega, o baloiço e o balancé, voltou tudo a ficar negro. Desta vez ouvia o rio. Os meus pés sentiam a madeira de um cais. A minha mão estendeu-se para o lado e pude aperceber-me que ao meu lado havia plantas do género de canas. Sim, sabia exactamente onde estava. tinha tirado algumas fotos com a Bia e o J.T. ali, ainda pouco tempo antes. Estava no Parque das Nações. Assim que comecei a vislumbrar o Tejo lá ao fundo, voltou tudo a ficar negro. Agora não sentia nada. Apenas um calor atraente, aconchegante. Espera. Oiço algo. Um coração a bater. Deve ser o meu. Sim, é o meu. Não. Oiço algo mais. Um frágil eco desse coração. Um pequeno coração mais fraco, mas já cheio de vida, batia compassadamente com o outro coração. Era o coração de um bebé que batia com o meu? Mexi-me. O ambiente à minha volta era pesado, como se estivesse debaixo de água. A minha visão era turva. Atrás de mim estava escuro. No entanto, conseguia ver uma luz faca, avermelhada à minha frente... Parecia... Parecia que a luz estava a atravessar uma barreira de pele. Olhei para o meu peito magro. Uma pequena luzinha branca trémula piscava ao ritmo do coração mais pequeno. Percebi onde estava. O coração que batia forte não era o meu, mas o da minha mãe. Eu era o bebé dono do coração mais fraco. Estava no útero, ainda por nascer. Ouvi as vozes abafadas dos meus pais. Alguém encostou a cabeça à barriga da minha mãe, para me ouvir. Tentei alcançá-la, mas tudo voltou a ficar negro. Continuava a ouvir um coração. A respiração. Sim, agora estava a ouvir o meu próprio corpo. Oiço uma voz, que nunca antes tinha ouvido, dizer que me ama. Abro os olhos para tentar ver quem foi. Quando o faço, acordo do sonho. O coração continua a bater A respiração continua igual. O tecto branco continua branco. Os lençóis bege continuam da mesma cor. O edredão vermelho continua vermelho. A cama branca continua branca. Os cortinados brancos continuam brancos. O chão de madeira continua castanho-claro. Tudo está como antes. Eu sou a mesma pessoa. Apenas sei mais sobre mim do que sabia antes. Mas isso está diferente. O conhecimento tem preço. E o conhecimento muda a nossa forma de ver a vida. As grandes coisas, pelo menos. As pequenas coisas agradáveis da vida: a praia, o campo, o parque infantil, o Parque das Nações, o calor do útero, o abrigo do meu próprio corpo e da minha mente... O amor que alguém poderia sentir por mim. Tudo isso continua o mesmo.

2 comentário(s):

Unknown disse...

Digo-te, esse foi um sonho maravilhoso, pelo menos a parte do útero foi espectacular. E tem tanto significado.

Unknown disse...

:p eu também gostei bastante dessa parte do sonho :) Fez-me pensar no que a minha mãe sentiu quando estava grávida e quando eu nasci... Fez-me sentir um pouco mais importante.

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